A era da grosseria online
Parece um duelo do Velho Oeste. No lugar da arma, é o dedo no mouse ou na tela do celular. Navegamos pelas redes sociais como se estivéssemos num filme de bangue-bangue. Aguardamos o adversário chegar armado para nos surpreender. Ao sinal de ameaça, “pá!”, ou melhor, “clique!”. Assim, compartilhamos textos esdrúxulos sem ler porque o título é provocativo. Distribuímos fotomontagens malfeitas achando que são imagens reais.
O Brasil sofre de um problema crônico de educação virtual. Somos imaturos. A sensação de segurança mistura-se a uma falsa ideia sobre a liberdade de expressão. Sérgio Ferreira do Amaral, professor do Departamento de Ciências Sociais na Educação da Unicamp, explica que a ideia de estar livre para disseminar comentários maldosos acontece porque a pessoa acredita que não será encontrada, já que a internet é uma plataforma recente.
Além disso, a sociedade precisa aprender a se reorganizar em rede. Para o cientista social Marco Aurélio Nogueira, da Universidade de São Paulo, a internet se popularizou em meio ao enfraquecimento de instituições que tradicionalmente ajudavam a organizar comunidades. A escola, a igreja, a família, os sindicatos e os partidos estão perdendo a influência. As pessoas estão buscando as respostas na internet. “A cultura brasileira, tradicionalmente, nunca incorporou o conflito e a divergência, algo inerente ao ambiente de internet”, diz Nogueira. “A cultura de rede ainda não se fixou em termos éticos na vida brasileira. Não temos uma cultura de boas maneiras. A gente nem sequer sabe o que queremos da vida em rede.” Precisamos repensar o papel social das redes sociais. Caso contrário, a internet, que cresceu e se desenvolveu como uma poderosa ferramenta democrática, corre o risco de alimentar o ódio, a intolerância e o autoritarismo.